Aqui do meu quarto eu consigo ouvir as crianças da rua debaixo brincando e gritando o dia inteiro. Aí eu saio na sacada e olho pra elas e penso: "Meu deus, eu não queria ser criança". Eu realmente tenho vergonha da minha infância e eu não queria repetí-la. Alegria em brincar e esse entusiasmo barato não me conferem nostalgia e eu agradeço por já ter passado dos 12 anos.
Eu vejo os velhos do centro da cidade e penso: "Não quero envelhecer". Não quero ficar careca, não quero rugas, não quero doenças, não quero osteoporose, não quero nada do que o meu futuro vai me oferecer. A confirmação de tudo isso eu percebo no meu pai. Um coitado barrigudo com rugas e problemas na coluna.
Mas aí eu lembro dos jovens da minha idade - ah! os jovens! o futuro da nação - e então eu penso: "Não quero ser assim". Vejo o meu irmão, os amigos dele, as pessoas da escola, os ex amigos da rua, os primos, os estranhos jovens descolados que encontro por aí, os pré-universitários, os gays, os manos e etc etc etc e sinto orgulhoso! Orgulho de não pertencer a nenhuma porcaria de grupo e por não ser como eles. E mesmo os que estão à margem, como eu. São todos uns idiotas. Não há pessoas legais no mundo.
Aí, então, que eu me olho no espelho e penso: O que eu estou fazendo aqui? Esperando o que, de quem, pra quê? Sinceramente, eu não sei o que estou fazendo. E como se não bastasse esse vácuo, essa vala, esse vazio demográfico dentro de mim, que me impede de ser "normal" e de então pensar e agir "normalmente", eu ainda faço coisas que fodem ainda mais toda essa porcaria. Talvez o meu cérebro não saiba pensar. Ou então falta uma conexão entre a porcaria da minha massa cerebral e o resto do corpo. É como se eu só soubesse respirar, suar, andar, urinar. Eu não consigo lidar com os sentimentos, com os medos, com os desejos, com essas coisas exclusivas da humanidade. Eu sou um ser-humano, habilitado a pensar e a criar, mas não tenho nada pra fazer nessa porcaria de mundo, nessa porcaria de corpo, nessa porcaria de casa, nessa porcaria de vida. Ou quando surge alguma coisa e eu penso que finalmente vou conseguir me libertar um pouco, eu não consigo, não consigo. Não vou até o fim. Dos cursos que fiz foram poucos os que concluí. E dos que concluí nada lembro e tenho até vergonha de colocar no meu currículo, pois se alguém me contratar eu não vou saber fazer nada. Ou quando surge uma pessoa que me faz acreditar que o mundo não está perdido, que as merdas das nuvens cinzas um dia poderão ser brancas e toda essa merda platônica que EU, exclusivamente eu, apenas eu, eu sozinho, crio na merda da minha cabeça, eu me perco. Me perco completamente e cada vez mais fundo. Foram poucas as vezes, mas sempre intensas. Eu não sei o que acontece. Por que acreditar que alguma coisa vai mudar? Meu deus, olhe para os lados, Diogo. Seja realista pelo menos uma vez na sua vida e entenda que as coisas não vão mudar.
P.S.: Vou lançar um livro sobre dramas adolescentes...
Eu vejo os velhos do centro da cidade e penso: "Não quero envelhecer". Não quero ficar careca, não quero rugas, não quero doenças, não quero osteoporose, não quero nada do que o meu futuro vai me oferecer. A confirmação de tudo isso eu percebo no meu pai. Um coitado barrigudo com rugas e problemas na coluna.
Mas aí eu lembro dos jovens da minha idade - ah! os jovens! o futuro da nação - e então eu penso: "Não quero ser assim". Vejo o meu irmão, os amigos dele, as pessoas da escola, os ex amigos da rua, os primos, os estranhos jovens descolados que encontro por aí, os pré-universitários, os gays, os manos e etc etc etc e sinto orgulhoso! Orgulho de não pertencer a nenhuma porcaria de grupo e por não ser como eles. E mesmo os que estão à margem, como eu. São todos uns idiotas. Não há pessoas legais no mundo.
Aí, então, que eu me olho no espelho e penso: O que eu estou fazendo aqui? Esperando o que, de quem, pra quê? Sinceramente, eu não sei o que estou fazendo. E como se não bastasse esse vácuo, essa vala, esse vazio demográfico dentro de mim, que me impede de ser "normal" e de então pensar e agir "normalmente", eu ainda faço coisas que fodem ainda mais toda essa porcaria. Talvez o meu cérebro não saiba pensar. Ou então falta uma conexão entre a porcaria da minha massa cerebral e o resto do corpo. É como se eu só soubesse respirar, suar, andar, urinar. Eu não consigo lidar com os sentimentos, com os medos, com os desejos, com essas coisas exclusivas da humanidade. Eu sou um ser-humano, habilitado a pensar e a criar, mas não tenho nada pra fazer nessa porcaria de mundo, nessa porcaria de corpo, nessa porcaria de casa, nessa porcaria de vida. Ou quando surge alguma coisa e eu penso que finalmente vou conseguir me libertar um pouco, eu não consigo, não consigo. Não vou até o fim. Dos cursos que fiz foram poucos os que concluí. E dos que concluí nada lembro e tenho até vergonha de colocar no meu currículo, pois se alguém me contratar eu não vou saber fazer nada. Ou quando surge uma pessoa que me faz acreditar que o mundo não está perdido, que as merdas das nuvens cinzas um dia poderão ser brancas e toda essa merda platônica que EU, exclusivamente eu, apenas eu, eu sozinho, crio na merda da minha cabeça, eu me perco. Me perco completamente e cada vez mais fundo. Foram poucas as vezes, mas sempre intensas. Eu não sei o que acontece. Por que acreditar que alguma coisa vai mudar? Meu deus, olhe para os lados, Diogo. Seja realista pelo menos uma vez na sua vida e entenda que as coisas não vão mudar.
P.S.: Vou lançar um livro sobre dramas adolescentes...
Marcadores: fictício
1 Comentários:
otimista triste. ou pessimista mesmo.
:~
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial