sábado, 19 de janeiro de 2008

O cruzamento e o não oi.

   Eu estou vestido de um jeito que ela não sabe, não conhece o meu perfume, não sabe que lavo o cabelo com o chuveiro desligado - evito sim o desperdício. Na rua me mantenho ereto e vou andando sem olhar para os lados, até que a vejo e de repente perco toda a postura. Fico perdido e não vejo que a luz vermelha me ordena esperar e que a luz redonda os faz correr, sim, os carros, e eu acabo quase sendo atropelado. Mesmo assustado continuei andando tentando fazer com que cruzássemos o olhar e então talvez um oi. Como eu, ela se veste de um jeito que não conheço, não sinto o seu perfume e não sei o que ela faz com os cabelos. Ela se mantém ereta e anda sem olhar para os lados, nem nota o quase acidente.
   Dois olhos que não se cruzam no cruzamento onde os carros passam sem quase dar a chance aos pedestres apaixonados e perdidos de desviarem de um quase atropelamento. A vida é assim, nada é real e tudo o que é, o é injustamente. A verdade é que estas palavras talvez tornem as coisas mais bonitas mas não é assim lá fora. Não há câmera lenta como no cinema e nem coincidência que junta duas pessoas para sempre. Há apenas minhas pernas indo na direção contrária das dela. E hoje foi ela, amanhã será outra ou outro e depois mais um, mais uma, e tudo o que sempre acontece na minha vida são esses cruzamentos não cruzados e as luzes me dizendo o que fazer e o único frio na barriga que sinto não é quando sua mão delicada percorre o meu abdômen.

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2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

tenho inveja de vc. vc sabe escrever e eu não mhm

20/1/08 9:35 PM  
Blogger d.dilettoso disse...

é...
sempre os cruzamentos não cruzados.

'a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."

21/1/08 12:54 PM  

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