sábado, 23 de fevereiro de 2008

Foi se deitar correndo, desesperada e tudo o que fazia era chorar. O seu quarto, perfeitamente organizado e limpo, estava quente. A chuva lá fora não permitia que as janelas ficassem abertas. Desta forma, o quarto todo parecia guardar uma imensa nuvem de calor. Estava de fato muito abafado.
"O que é que acontece comigo, meu Deus?" perguntou enquanto jogava-se em cima da cama. As várias almofadas coloridas - que deveriam sempre ficar em cima da cama - pularam e voaram para o chão. Seus pés não descalços desarrumavam e sujavam o edredon, o tênis parecia mesmo rasgá-lo, mas era apenas impressão. E, de qualquer forma, ela não notava nada. Apenas chorava sobre a cama e o nariz já começava a escorrer. Pensava coisas como "ninguém aqui pra me notar", "não entendo o que sinto", "meu Deus, por que comigo?", "eles não vão notar e eu vou continuar assim pra sempre, serei esta pessoa amarga e doentia o resto da minha vida, meu Deus não quero viver assim". E ela era uma grande idiota. Toda essa porcaria de meu deus quando na verdade o que sempre dizia era que ele não existia. Uma falsa. Uma fraca. Eduarda era uma fraca.

Às onze horas ela decidiu, finalmente, se levantar. Esticou o corpo e limpou os olhos e foi andando, procurando assim, com os olhos inchados e ainda ardendo, encontrar as lentes e um pedaço de papel para limpar o nariz. Na mesa e é claro, um rolo de papel higiênico bem no canto e as lentes ao lado.


A minha vida anda uma bagunça. Todas as noites eu me estresso muito, sabe? E eu acabo fazendo coisas completamente nonsense. Ontem eu chutei a parede várias vezes e até me dei uns socos. Minha perna tá vemelha, olha. É sim, é muito estranho. É ridículo na verdade.

E riu.

Não tem sentido uma mulher fazer uma coisa dessas. Mas eu sei o que acontece. É a falta. Falta de tudo, do que fazer, do que pensar, de alguém. A gente sempre sente falta de alguma coisa, não é? E ao invés de isso tudo, quero dizer, da falta disso tudo me atacar com melancolia e silêncio, sou violenta e explosiva. Violentada, na realidade. Eu simplesmente faço essas maluquices porque sou violentada, assim de repente, com esses pensamentos idiotas de querem acabar com tudo. Mas eu não tenho culpa, te prometo. E eu tenho certeza que você vai entender.


A vergonha era grande quando sentou-se a mesa da cozinha. Ela estava lendo os papéis que estavam ali, a postura bem errada, os ombros quase na altura da mesa, na cabeça podia-se ver a linha da raiz do seu cabelo. O pijama largo deixava suas clavículas bem a vista. As pernas tortas, quase desnudas, cheias de marcas de depilação corrida. E os pés, feios, do tipo bailarina, estavam estáticos.

E eu não sabia o que dizer.

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