Vinte e Cinco Degraus I
25 degraus e é preciso subir. Nenhuma metáfora singela fora criada e nem a isso consegue apegar-se. Me desculpe, eu preciso das minhas cores, pensa em dizer ao entrar no salão e ver sapatilhas cinzas. Não diz. É então que tudo acontece.
Após ajustar sua cadeira, acomodar os pés embaixo da mesa e dizer bom dia caixa postal e ouvir todos os recados, ela percebeu que o sol pedia para entrar em sua sala. Persianas fechadas. I can see the sunshine that makes me want to cry tears of rainbow coloured joy. Listrinhas de cor-sim-cor-não de na verdade luz-sim-luz-não - o jogo de sombra e luz que os raios solares e as persianas conseguem criar - nas paredes, por cima de sua mesa e mais um pouco, sobrando, no chão. E é tudo o que ela consegue pensar. São apenas dois minutos de transgressão em que aquela melancolia colorida e azeda chega, fazendo um jogo de alegria-sim-alegria-não em seu corpo. Oscilação maldita que mora ali dentro - dela - como qualquer outra coisa que mora em algum lugar pra sempre ou então por muito tempo - está cansada das comparações. Seu amigo de serviço, um homem alto, magro, 37 anos, de cabelos ondulados em cor mel quase louro, olhos escuros e pele ressecada bate à sua porta e diz bom dia. Já não encontrava-se ali - nela - o papel de parede listrado e ela sorriu. De fato sorriu porque gosta dele, deste homem alto que trabalha com ela. Durante os intervalos é com ele que ela vai passear e almoçar. Dividem os cigarros e não há uma única coisa que ela sinta vergonha de dizer a ele. Ela, em seus 25 anos, consegue ser despojada o suficiente para ter amigos homens - e ainda mais velhos - que são casados e tudo o mais e também tem a capacidade de se comportar como uma senhora quando está na frente de um homem mais novo. Sua característica persiana é algo que ela realmente consegue admirar em si mesma. Sentada ali, conversando e dando atenção àquele homem, ela realmente é uma moça atraente. Tem sua própria sala no escritório e consegue desfilar em salto alto mesmo tendo passado toda sua vida de menina andando descalça por entre construções de seu antigo bairro. O seu cabelo, diriam as outras mulheres, não chegava a ser bonito. Mas ao mesmo tempo conseguia ser arrumado, o que já era suficiente. Fios finos demais que costumam ficar arrepiados e me ouso a arriscar que aquele corte não é certo pra ela. Mas no enfim ela é uma moça muito atraente. E o homem alto está ali, contando como fora seu final de semana, entusiasmado e risonho.
De repente tudo volta a acontecer.
Marcadores: fictício
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